Está em cartaz no Teatro Laura Alvim o charmoso e agridoce texto de Maitê Proença e Luiz Carlos Góes "As meninas". Passado em um original velório, do qual a falecida participa intensamente, o texto é uma descoberta de como diferentes idades e diferentes posições na constituição de um pequeno grupo social reagem e se expressam diante de uma morte, além de tudo violenta.
O desaparecimento de uma vida desencadeia sentimentos nos que permanecem e lembranças sobre a ascendência e esperanças sobre a descendência. É nesta apropriação de tempo e na certeza da permanência da continuidade que o texto de Maitê Proença e Luiz Carlos Góes equilibra melancolia e humor, docilidade e amargor, numa dosagem com indisfarçável envolvimento emocional e inteligente sabor crítico. As mulheres que surgem, vivas ou mortas, no velório de uma delas, são conduzidas por duas adolescentes que, diante da solenidade da ocasião, apontam o ridículo dos comportamentos. As razões para a morte da mulher que está sendo velada são trágicas, mas tanto a filha da falecida, quanto sua amiga, olham para o que se desenrola em torno com a espontaneidade dos olhos limpos.
Com diálogos repletos de observações mordazes e de encantadora impertinência, os autores recheiam com este ar juvenil a comédia dramática de mulheres que perpetuam a essência do feminino. Simpática, envolvente, igualmente afetiva, As meninas talvez insista, além do necessário, na reiteração de algumas situações e no esgarçamento da duração, detalhes que não comprometem o prazer de assistir a um texto atraente.
A encenação é um invólucro mais do que satisfatório para o texto: o cenário de Cristina Novaes tem sua base em outro, o histórico feito por Gordon Craig para o "Hamlet" de Stanislavsky, porém com mais sucesso e propriedade do que este último alcançou. Os figurinos de Beth Filipecki são não só encantadores em si como expressivos do clima onírico da ação, a um tempo no auge da moda e totalmente atemporais, remetendo tudo para uma realidade imaginativa; e tudo é muito bem iluminado por Paulo César Medeiros, que também embarca na fantasia.
O elenco está exemplar: a morta, Vanessa Gerbelli, domina tudo com uma leveza e um encanto, unidos a um agudo senso de humor. Consuelo é uma mãe que se levanta do caixão para lembrar de sua trajetória com duas crianças - sua filha e uma amiga da menina. Sara Antunes e Patrícia Pinho, que estão ambas deliciosas como a filha da morta e sua melhor amiga, principalmente quando raciocinam para filosofar em bases inesperadas conclusões deliciosas. Analu Prestes está ótima nos exageros da mãe cuja preocupação é desempenhar seu papel em função do que poderão dizer os outros, enquanto Clarisse Derzié Luz se desdobra em vários personagens, principalmente na da falecida bisavó vidente. Um ótimo conjunto.
"As meninas" não tem só risos,e envolve a plateia em toda a sua gama de sentimentos. Assim sendo, é mais do que bem-vinda ao panorama teatral do Rio.
Local: Casa de Cultura Laura Alvim Endereço: Av. Vieira Souto 176, Ipanema Preço: R$ 40,00. Data: Até 20 de setembro de 2009. Horário: Quinta a sábado, 21h; domingo, 20h.
Fotos:
Fonte: Jornal Jb e O Globo
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